Sextou! E bem mais cedo nas empresas que adotam a ‘Short Friday’, o meio expediente às sextas
Em variante da tendência de flexibilização das jornadas de trabalho no mundo corporativo, algumas companhias têm jornada de trabalho reduzida no último dia útil da semana
Sair mais cedo do trabalho na sexta-feira pode parecer um sonho, mas, para alguns brasileiros, é realidade. Enquanto a semana de quatro dias começa a ganhar espaço no Brasil e no mundo, algumas empresas já adotam a chamada “Short Friday” (sexta-feira curta) há algum tempo, permitindo que os funcionários tenham um expediente mais curto nesse dia e antecipem o início do fim de semana.
Levantamento feito pela consultoria Mercer Marsh Benefícios com 850 empresas, no primeiro semestre de 2023, identificou que 78% delas oferecem algum tipo de flexibilidade no trabalho. Desse universo, 13% adotam a short Friday.
A farmacêutica Bayer, por exemplo, introduziu o modelo em 2011. Apesar de o horário padrão da short Friday ser das 7h30m às 13h30m, os funcionários têm a opção, nesse dia, de começar a trabalhar até duas horas mais tarde, às 9h30m — nesse caso, saem duas horas mais tarde.
Para Rosimeire Muricy, superintendente de consultoria da Mercer Marsh Benefícios, a adoção de práticas mais flexíveis pelas empresas influi no desempenho dos funcionários:
— Os colaboradores são mais prósperos nas organizações quando se sentem valorizados e realizados.
A analista de Talent Acquisition da Bayer Thaiane Bragante, de 37 anos, aproveita a saída mais cedo às sextas-feiras para se cuidar e ainda buscar seu filho de 1 ano mais cedo na creche. Ela diz que esse tempinho extra faz toda a diferença na produtividade:
— É como se o seu fim de semana fosse antecipado. Quando você volta na segunda-feira, não tem aquela impressão de que o fim de semana passou voando. Você consegue pensar melhor, ter mais criatividade e focar mais.
Na Bloomin’ Brands, dona de marcas de restaurantes como Outback e Abbraccio, a short Friday foi implementada pela primeira vez em 2015, durante o verão, quando o expediente terminava às 14h. Devido ao sucesso do modelo, em 2019, o benefício foi ampliado para o ano todo. Os funcionários, no entanto, devem escolher somente uma sexta-feira do mês para trabalhar até as 14h.
— A experiência e o retorno dos colaboradores em relação à short Friday têm sido extremamente positivos. Observamos resultados excelentes, com profissionais mais motivados e engajados — afirma Tatiana Taffuri, diretora de Gestão de Pessoas e Cultura na Bloomin’ Brands Brasil.
‘Short Friday’ compensada?
Na avaliação da Bayer, o modelo vem funcionando e atendendo às necessidades de flexibilidade dos colaboradores, por isso não considera a adoção da semana de quatro dias no momento. Erica Barbagalo, vice-presidente de Recursos Humanos Brasil e para o negócio agro Latam da Bayer, explica que a short Friday está alinhada a um programa de compensação de dias e horas:
— Para garantir que não haja impactos significativos na rotina diária dos colaboradores, a Bayer redistribui essa soma ao longo dos dias úteis do ano. Dessa forma, os colaboradores trabalham um tempo adicional a cada dia para desfrutar da short Friday e das pontes de feriados, sem comprometer suas atividades profissionais.
No entanto, a compensação de dias e horas não é uma regra para empresas com sexta-feira reduzida. De acordo com a legislação brasileira, a jornada do trabalhador tem a duração de oito horas diárias — ou 44 horas semanais —, facultada a compensação de horários e redução de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva.
— Adotar uma jornada menor que o limite trazido na Constituição Federal é, como regra, lícito, bastando ajustar isso por escrito com o empregado e remunerar os serviços prestados pagando o valor do salário mínimo/hora — explica Alexandre Fragoso, especialista em direito do Trabalho e sócio do escritório Briganti Advogados.
Ele ressalta que, quando a empresa reduz a carga horária, o mesmo não deve acontecer com o salário. E, caso decida voltar atrás e aumentar a jornada, a empresa precisa da anuência do trabalhador, além de assegurar que não haja prejuízo para ele.
Redução da jornada sem desconto
Na Bloomin’ Brands, a sexta-feira mais curta não implica desconto, seja no salário, seja no banco de horas. Na L’Oréal, que desde 2021 libera os trabalhadores às 15h na sexta-feira, também não há redução salarial.
O analista de recursos humanos da L’Oréal Felipe Palomino, de 28 anos, por exemplo, aproveita as horas livres nas sextas-feiras não só para resolver problemas pessoais — ir ao banco, fazer compras — como para marcar um vôlei na praia com os colegas de trabalho. A prática do esporte começou com um grupo pequeno, e hoje já são 20 pessoas da empresa.
— Tem dia em que precisamos até dividir o time, de tanta gente — conta Palomino, acrescentando que a short Friday é uma “unanimidade”. — A gente se beneficia por ter esse horário extra e as empresas acabam tendo funcionários mais felizes e motivados.
Estudo da empresa de recrutamento PageGroup mostra que 70% dos trabalhadores brasileiros consideram uma jornada que se adapta à rotina como o segundo fator mais importante para a flexibilidade no emprego.
A diretora de RH Benefícios do Grupo L’Oréal no Brasil, Nathalia Mainardi, explica que o foco da empresa era promover maior equilíbrio de vida e bem-estar:
— Além disso, implementamos diversas iniciativas para permitir maior qualidade de vida no trabalho, como bloqueio de reuniões na segunda de manhã e tempo máximo de duração de reunião.
Não é para todos…
No entanto, na maioria das empresas o benefício não está disponível para todo mundo. Com cerca de 5 mil funcionários, na Bayer a short Friday só contempla quem trabalha em funções administrativas. A equipe de vendas e quem trabalha nas atividades técnicas, operacionais e de campo, diz Erica Barbagalo, já têm regime de horário especial.
Na Bloomin’ Brands, a short Friday também é restrita a quem tem cargos administrativos. De acordo com Tatiana, cerca de 180 pessoas usufruem da sexta-feira reduzida. O mesmo ocorre na L’Oréal, que tem cerca de 3 mil funcionários no Brasil.